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domingo, 3 de março de 2013

8 de Março


Durante séculos, as mulheres passaram a integrar a força de trabalho fabril, em jornadas que, não raro, chegavam a 14 horas diárias, durante seis dias por semana. Ao organizar um protesto contra as más condições de trabalho, pedindo uma jornada de trabalho de 10 horas, tecelãs de uma fábrica de vestuário feminino Tecidos Cotton, em Nova Iorque, foram obrigadas a refugiar-se dentro da fábrica, fugindo da polícia.
As portas foram trancadas, foi ateado fogo à fábrica e, em 8 de março de 1857, 129 operárias morreram carbonizadas. A luta continuou, sendo que nos Estados Unidos o movimento por uma organização sindical foi liderado pelo setor têxtil, ressaltando-se a liderança de imigrantes judeus russos e poloneses. Paralelamente, novos focos de tensão despontavam na Europa e nos EUA. Em 1910 a segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas debate o tema e, a seguir, a ativista Clara Zetkin, muito ligada a Rosa Luxemburgo, propõe, no jornal L?Égalité, do qual era redatora, que o dia 8 de março fosse declarado Dia Internacional da Mulher, em homenagem às vítimas de 1857.
No ano seguinte, mais de um milhão de pessoas comemoraram a data. Essa prática continuou nas décadas de 1910 e 1920. Na Rússia, dia 23 de fevereiro de 1917, de acordo com o calendário juliano, correspondente a 8 de março do calendário gregoriano, trabalhadoras do setor de tecelagem entram em greve. Segundo Trotsky, teria sido o ponto de partida da Revolução de outubro. Depois do triunfo da revolução, a feminista bolchevique Alexandra Kollontai persuadiu Lênin a tornar a data de 8 de março em celebração da heróica mulher trabalhadora. Enquanto no Ocidente essa comemoração perdia forças, na então União Soviética e, depois da segunda guerra, nos seus satélites, a data continuou sendo festejada.
Outra faceta da luta das mulheres foi a dedicada à obtenção do direito de voto. Em 1893 esse direito foi conquistado, pela primeira vez na Nova Zelândia. No Brasil, tal viria ocorrer em 1932 com o Código Eleitoral - lei 21076 de 24 de fevereiro. Para não desmerecer o famoso "jeitinho brasileiro", já em 1929, Alzira Soriano de Souza elegeu-se prefeita de Lages (RN). Coincidentemente, em 1932, a delegação brasileira para os Jogos Olímpicos de Los Angeles incluiu uma mulher: Maria Lenk. Em 1975, a ONU começou a patrocinar o Dia Internacional da Mulher, não por coincidência, durante o Ano internacional da Mulher.
Atualmente, passados os sobressaltos do feminismo exacerbado de Betty Friedan, com as queimas simbólicas de sutiãs, as mulheres se fazem cada vez mais presentes em todos os setores da atividade humana. Aquilo que era anômalo ou esporádico tornou-se normal. Se é normal que não as encontremos praticando futebol americano, não causa nenhuma surpresa vê-las presidindo um país.
Não há mais atividade da qual as mulheres estejam alijadas. Desigualdades persistem ainda, embora seja possível afirmar que houve progressos gigantescos. Pouco a pouco, é evidente a tendência de a data se tornar um evento, cuja conotação comercial tende a superar a história de lutas que a consagrou. O andar da carruagem há de reservar ainda muitas surpresas, embora algumas tendências possam ser consideradas como tendo prazo de validade indeterminado. Por mais que se evolua nessa direção, uma evidência inarredável há de marcar para sempre. As palavras "mulher" e "paixão" possuem o mesmo número de letras.
As conclusões quanto a essa curiosidade são livres. Ao reler o texto, percebi que acabei de me tornar culpado por excesso de objetividade. Nessa crônica deveria caber no mínimo o tradicional "Parabéns a todas as mulheres do mundo!"

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